segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um novo país, Austrália

Chegou a altura desta grande mudança. Se me perguntassem à um ano atrás o que eu ia fazer amanhã, eu ia dizer com um ar aborrecido,” amanhã vou para a escola, em S. João da Madeira”, mas se eu hoje pudesse dizer isso sentir-me-ia feliz, pois saberia as pessoas que ia encontrar, assim como o ambiente, sentiria-me mais segura, por de certa forma, saber o meu amanhã. Mas agora não adianta olhar para o passado, como já ouvi muitas vezes dizerem “bola para a frente que atrás vem gente”. Espera-me muitas horas de avião, e algumas trocas antes, porque não há voos directos.
No último avião, quase a chegar, distribuíram um papel que era para a Alfândega, mas só entregaram às pessoas adultas, porém, como curiosa que sou, estive a ler, perguntava de que país vínhamos, onde pretendíamos ficar, se trazíamos comida, etc.
Aquela primeira impressão de tudo ser novo já tinha passado. Passaram 2 dias a correr, e chegou o dia em que ia finalmente conhecer a minha escola. Nestes dias, reparei que existem muitos centros comercias. Tinha lido que os australianos eram compradores compulsivos e, deve ser devido a isso que existe tantos, e tão perto. As pessoas são muito simpáticas e compreensíveis. A minha tentativa de falar inglês não me correu muito bem, o meu inglês não é mesmo nada bom, mas algumas pessoas tentaram-me ajudar a falar e a compreender o que diziam, falavam mais devagar, quase que soletravam as palavras. O que me está a custar mais é a adaptação ao dinheiro, mas ainda é muito cedo para eu já saber manusear bem o dólar.
Passou-se o 3º dia neste país, e cada vez me surpreendo mais. Tinha ideia que os australianos eram muito reservados e são, e por isso pensava que não se riam, não falavam com quem não conheciam ou que para falar com eles era preciso ‘um ano’. Mas não, cheguei à escola, arranjei logo novas amizades e eles são muito divertidos, estiveram-me a falar da cultura deles. Houve uma rapariga que me chamou logo à atenção, não devia ser daquele país, o inglês dela não era muito bom, ainda conseguia ser pior que o meu, mas já estava adaptada o que me levou a mudar o que pensava até aí.
Gostei muito do primeiro dia de aulas, mas não era a mesma coisa que em Portugal, senti enormes saudades dos meus amigos, das brincadeiras nos intervalos, de tudo.
Mas acho que o facto de ter cá a família, o meu valor primordial, ajuda imenso, acho que se tivesse vindo sem eles morreria de saudades, não me sentiria bem, mas também não quero pensar nisso, estou aqui com eles e isso é que importa Eu começo a pensar para mim, até aqui tenho-me regido por uma pirâmide dos valores, com os valores que acho que tem valências positivas, e que me identifico melhor, será que esta pirâmide vai mudar? Na disciplina de Filosofia, aprendi que a pirâmide pode diferenciar dependendo da cultura, mas acho que prefiro esperar para ver o que acontece.
Neste segundo dia de aulas estava animada para ir para a escola (já mudei assim tanto?). O meu irmão veio-me chatear, a dizer que já sabe falar melhor inglês que eu, mas ainda estava meia a dormir e muito bem disposta, nem liguei. Os meus pais estão a gostar, estão felizes da vida, juntaram-se a um povo que apresenta semelhanças com eles, gostam de passear e ir à praia, e é tudo muito perto. As populações habitam mais a parte litoral, como em Portugal, estou-me sempre a lembrar do meu belo país.
Na escola, toda a gente me faz perguntas, e eu a eles, estivemos a ter longas conversas, já tinha ideia que eram reservados, mas faz-me alguma confusão, eles não falam nada de sentimental, nessa área são muito frios, mas vou tentar não falar disso. Há umas raparigas que no nosso português dizemos “tem a mania”. Os professores estão sempre a dizer para vermos o canal SBS que tem documentários feitos pela BBC, mas houve quem dissesse que via esse canal por causa do futebol ou jogos de Cricket e Rugby que dão o fim-de-semana todo. Os australianos gostam muito de desportos ao ar livre. São um povo diferente, mas se fossemos todos iguais o mundo seria uma “seca”.
Todos os dias tenho pensado na questão da pirâmide. Acho que agora já mudou alguma coisa, apesar de ser cedo. Eu tinha a Família (acho que este vai ser eternamente o meu valor primordial), amigos, o meu futuro, é este que acho que agora não se enquadra bem no meu pensamento e na forma de vida que estou a levar, pois de um momento para o outro tudo mudou, não posso pensar em futuro, pois esse é uma incógnita, agora quero é viver o presente, e talvez altere para isso mesmo, o presente.
Passou mais um dia, neste fomos visitar a capital, Camberra. Aprendi novas coisas, e conheci, durante o caminho para lá, algumas das rádios que cá existem tais como “A Tripe J” que só dá música rock das zonas locais, por isso acho que não vou ouvir muito, assim como a “Sea FM”, só que o rock é de varias épocas, mas descobri uma interessante que dá um programa em português é a “SBS” na 97.7FM.
Um sentimento, que não sei descrever, mas que é mau, faz-me sentir mal, apodera-se de mim quando penso e relembro Portugal e alguns momentos que lá passei. Nunca me imaginaria aqui, nunca imaginaria que fosse sair do meu país, estou a gostar deste, mas não é a mesma coisa, sinto tanta falta de toda a gente e cada pessoa em especial que deixei. É como se tivesse perdido uma grande parte de mim, embora saiba que vou manter contacto, vou lá visitar, mas não é a mesma coisa, sei também que os meus pais sentem muita falta de lá, embora não queiram mostrar que é para ver se eu e o meu irmão não pensarmos tanto nisso, mas nós sabemos. Os pais querem sempre proteger os filhos do sofrimento, mas os filhos percebem.
Ainda não tinha percebido o que queriam dizer umas placas que via por aí, mas agora já sei, são placas com normas de procedimento para cada área, com o valor das multas aplicáveis. A Austrália preocupa-se muito com o meio ambiente. Toda a gente associa a Australia a cangurus e eu ainda não vi nenhum, dizem que ao aproximarmo-nos do deserto podem passar alguns em estradas, e tem lá sinalização, mas disseram-me para ir ao Zoo de Perth, mas ainda estou aqui à poucos dias, ainda não fomos conhecer bem a nossa cidade, nem o resto do país.
Mais um dia passou, na escola agora ando mais com a Sabine, a Jenice, o Jarry e o Henry, é ‘altamente’, eles são muito simpáticos, eles contam-me as suas aventuras passadas, eu também e é sempre uma animação, são mesmo muito divertidos, e com isto já aperfeiçoei o meu inglês, apesar de ainda continuar com algumas dificuldades.
Ao final do dia lembro-me sempre da mesma coisa, acho que com o passar do tempo me vou esquecendo e quando me voltar a lembrar já a minha pirâmide estará mais de acordo com a minha nova rotina. Estive a pensar, ao confrontar-me com esta nova realidade, acho que há coisas mais prioritárias que os bens essências que estão em 7º na minha pirâmide, acho que mais importante que isso é a saúde, minha e de quem me rodeia, acho que é pior ter um familiar doente do que mudar de país. Então a minha pirâmide ficara com a Família como valor primordial, a saúde, a humildade, a sinceridade, os amigos, a coragem e o presente.
Passado alguns meses, venho ler “o meu diário”, já me tinha esquecido dele, tem coisas que já não me lembrava, adaptei-me muito bem, o meu grupo ainda continua o mesmo, e somos muito amigos, inscrevemo-nos num concurso que vai haver, são desportos ao ar livre, estamos confiantes. O meu inglês agora está quase perfeito, falham-me algumas palavras. As saudades ainda as sinto, mas tento não me lembrar desse modo, tento pensar que a vida continua, e que não ía ficar eternamente com aquelas pessoas, e a fazer as mesmas coisas, um dia teria de me separar de muita gente que convivi. Já vi cangurus, são muito fofinhos, mas não gosto quando se aproximam, mas a saltar metem ‘piada’. As minhas reflexões sobre os meus valores tornaram-me mensais e não diárias, mas não mudei desde a última alteração que fiz. Talvez passado um tempo volte a muda-la para estar mais de acordo ao meu estilo de vida, mas por enquanto enquadra-se bem.
Sei que a minha pirâmide dos valores vai ser sempre alterada de acordo com o que a vida nos vai oferecer, ou com o que vamos conquistando, ou com as mudanças de vida que vamos fazendo. Mas ter uma pirâmide com função de linhas orientadoras de vida, acho muito bom, desde que esses valores sejam positivos e que estejam numa hierarquia correcta.
Se mais tarde a minha pirâmide vai mudar, só o tempo e as circunstâncias dirão.


Sem comentários:

Enviar um comentário