quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Estado de Orissa - Índia


Olho à minha volta, estou no Estado de Orissa na Indía. Tudo é estranho, diferente, não conheço nada nem ninguém, apenas a minha mãe e o meu “eu”. Cheguei hoje e as saudades do meu país já são muitas. Amanhã será um novo dia, será que vou gostar de estar aqui? Será que vou ser feliz neste lugar? Será que alguma coisa irá mudar, a minha personalidade, o meu “eu”? São muitas as perguntas sem resposta e só o tempo me poderá esclarecer quanto a isto...
A minha mãe está feliz e eu tenho que estar feliz por ela, temos que nos ajudar nesta mudança radical. Segundo a minha pirâmide dos valores que defini à algum tempo atrás, a família é o meu valor primordial e só quero que ela esteja bem, seguindo-se a humildade, a auto realização, o amor e a saúde.
Ela apresentou-me a filha de uma colega do seu novo trabalho chamada Yasmin Provoska. É uma bela rapariga e por acaso é da minha escola, até agora temos andado sempre juntas apesar da dificuldade em comunicarmos pois a pronúncia inglesa tem pequenas diferenças. A Yasmin tem sido uma ajuda preciosa e tenho aprendido muitas coisas novas sobre a sua cultura, a sua forma de viver, os cozinhados típicos e a sua religião. Aqui é tudo estranho, nada parecido com Portugal.
Estou aqui à pouco tempo, mas o suficiente para perceber a tristeza que envolve os olhos escuros da Yasmin, foi aí que lhe perguntei o porquê? Ela decidiu desabafar comigo, visto que não tem mais ninguém com quem falar, e contou-me que a sua mãe tem sofrido muito desde que se casou com o seu pai. A mãe da Yasmin quando tinha dezasseis anos foi obrigada a casar-se pelos pais, e desde aí que sofre de maus tratos, abusos sexuais e a liberdade que tem é mínima, apenas pode estar em casa a fazer os seus trabalhos domésticos (com as menores condições de vida) e cuidar da sua filha, mais nada. No nosso país uma mulher neste estado já estava divorciada há longos anos, mas aqui não, seria uma vergonha para a família da mãe da Yasmin. Neste país os homens tratam as mulheres como se fossem um objecto, nunca tinha visto tanta crueldade, assistir a esta maldade toda com os meus próprios olhos é mesmo muito triste!
Hoje vejo as coisas de outra forma, os meus principais valores são: a família, o amor, a coragem (que as mulheres deste país têm que ter), a dignidade e a liberdade (que antes nem dava importância e hoje vejo que é realmente essencial para estarmos bem connosco próprios), por esta ordem respectivamente. Nunca pensei muito nas noticias que via no telejornal, mas é mesmo a realidade do Mundo em que vivemos com tantas desigualdades e injustiças. Agora sim, depois de ver tudo isto consigo responder a todas as perguntas que me questionava no primeiro dia em que cheguei à Índia. Sou feliz aqui, aprendi a dar valor a coisas que nunca tinha pensado antes e percebi que os nossos valores não são eternos e mudam consoante as situações que surgirão na nossa vida!

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