sábado, 27 de fevereiro de 2010

A mágoa da tua ausência magoa

Meu coração já magoado por este amor

Deixa uma dolorosa ferida na minha alma

Esta alma que apenas sente dor.

A felicidade não existe para mim,

Pelo menos neste momento,

Só conhecerei seu significado

Quando acabar este tormento.

Mas este tormento só irá acabar

Se isto não passar de uma paixão

E eu te conseguir esquecer.

Ou então se a morte se apiedar

E arrancar-me da frustração

Desta vida sem prazer.

Havia uma grande fortaleza

Que ninguém conseguia derrubar

Por mais esforços que se fizesse

Ninguém a conseguia fazer tombar.

Homens tentavam através da força física

Fazer aquela barreira cair,

Mas vendo que se mantinha inabalável

Acabavam por cedo desistir.

Até que chegou um homem jovem

Que facilmente a conseguiu derrubar

Usando apenas a força da palavra,

Um sorriso e, também, um olhar.

Mas o que realmente a fez tombar

Não foi o sorriso, nem a palavra, nem o olhar,

Mas sim o amor que deles emanava

E que permitiu ao coração dela se libertar.

Muitas coisas em que pensamos

São uma autêntica utopia

Uma grande quimera

Que a nossa mente contagia.

Um mundo de paz

Sem racismo nem xenofobia

Um mundo de igualdade

Onde toda a gente feliz seria.

Um mundo de tolerância

Onde povos possam comunicar

Um mundo onde com amor

As pessoas se possam brindar.

Um mundo sem corrupção

Politicamente correcto

Um mundo de perfeição

Onde todos fariam o que é certo.

Um mundo onde eu e tu

Possamos estar lado a lado

Um mundo em que te possa amar

E também ser amado.

Será isto exequível?

Ou será apenas uma fantasia

Criada pela minha mente?

Serei eu algum crente?

Poderá a nossa harmonia

Tornar isto possível?

As mulheres são os seres

Mais vingativos da Terra

Por tudo e por nada

Iniciam uma guerra.

Homens de aliança são

Os seus alvos preferidos

Tentam conquistá-los por entre

Jarros de tinto bem servidos.

Adoram enfeitar as testas

Das suas maiores rivais

Depois negam tudo

Com mentiras teatrais.

Com isto apenas conseguem

Perder credibilidade

E ganhar, também,

Uma vida de falsidade

Mentir é um dom natural

Que elas dominam na perfeição

Enganam toda a gente

Com palavras de lamentação.

Havia um homem, que tudo dizia saber.

Desde o nome de todos os astros

Ao nome dos donos de todos os castros.

Apenas não sabia o que estava para acontecer.

Procurava deslindar o tempo futuro

Questionava todos os cultos homens

Todos os líderes de ordens

Procurando alguém que quebrasse aquele muro.

Um dia, encontrou-se com um erudito,

Humilde e que nada dizia saber,

Numa muralha dum castelo a ranger,

E perguntou-lhe num tom de voz maldito:

“Sabes se o teu fado

Em algum lado está registado,

Ou tê-lo-ás tu de registar?”

E, lentamente,

Com grande serenidade

Própria da idade,

Ele respondeu, sabiamente:

“Eu estou para sempre condenado

A viver, pela incerteza, atormentado

Apenas sabendo que minha vida vai cessar.

Eu defino amor como sendo um sentimento

Onde é necessário haver grande maturidade

E por sua causa manifestamos

Toda a nossa ridicularidade.

É necessária maturidade

Para compreender algo tão belo

De elevado grau de complexidade

E também singelo.

Ridicularidade pois fazemos tudo

Até percorremos o mundo

Por uma só pessoa

Que tantas vezes nos magoa.´

Amor também nos consome por dentro

Deixando-nos no limiar da loucura

Mas quando é correspondido

Sentimos a felicidade mais pura.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Resumo da aula de Filosofia

Na aula do dia 18 de Fevereiro de 2010, começamos a estudar o capítulo “ A dimensão estética”. Lê-mos algumas páginas do manual acerca do juízo estético e o carácter heterocósmico da arte, a professora explicou a diferença entre moral e ética, procuramos num dicionário de filosofia o que era catarse e a professora foi explicando melhor alguns aspectos. Após isso estivemos a analisar umas fichas informativas sobre a fundamentação da moral, onde analisamos como introdução as Teorias Clássicas, que se aproximam da visão de Aristóteles, as Teorias Modernas , que concluímos que são semelhantes às ideias de Kant, e as Teorias Contemporâneas. Esta introdução serviu para iniciarmos o estudo de Aristóteles e Kant. Aristóteles, pai da Lógica e que se preocupou com problemas associados à acção humana, constatou que a finalidade/o fim que todos os seres humanos querem é a Felicidade e que para atingi-la, o ser humano necessita de prudência e algumas virtudes. Mas só com o exercício de investigação filosófica é que nos vai conduzir a esta sabedoria de vida. De Kant, estivemos a ver a Ética Kantiana que enuncia que Kant se guiava pela razão humana para lutar contra qualquer tirania exterior à razão. Ele propôs uma ética autónoma, formal e deontológica que consiste que o homem tenha força suficiente para seguir as orientações da razão, ainda que outros factores tendessem a desviá-lo, enquanto que até aquela altura existia a ética heteronoma, material e de cariz teológico, o homem apenas obedece a desejos, apetites e inclinações, não é autónomo e as normas de acção são definidas fora da razão do sujeito.

Definição de Catarse

Catarse - Em Aristóteles : purgação das paixões por meio da arte, que lhes permite expandir-se em objectos fictícios.

TerapÊutica Psicanalítica que consiste em livrar o paciente das suas perturbações, quer pela revocação á consciência da ideia cujo recalque as produziu, quer pela ab-reacção.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Relatório do Filme "América Proibida"

Este filme tem, logo á partida, algo que não costuma acontecer, pois começamos a ver o filme não do lado de quem sofre a perseguição, mas sim de quem persegue. Derek, um skinhead que viu o seu pai morrer e nunca mais conseguiu ultrapassar esse facto, segue fielmente um homem Neo Nazi que o transforma no líder dos Neo Nazis daquela região. Derek é visto como um exemplo, principalmente aos olhos do irmão, Danny, que segue os seus ideais fielmente. Ao ver de Derek, deve existir uma raça pura, e ele não tem problemas em tentar levar a sua ideia até aos níveis mais avançados, usando e abusando da violência. Logo no início do filme conseguimos perceber que o que leva muitas vezes as pessoas a optarem por más atitudes são problemas como complicadas relações familiares (neste caso marcadas pela morte da figura paterna), e o facto de se crescer numa atmosferas de constante tensão e intolerância.

Nas aulas de filosofia aprendemos que, perante a existência de seres humanos com normas e hábitos culturais diferentes, as pessoas podem assumir atitudes e condutas variadas. Neste caso, Derek e o seu grupo de Neo Nazis, optaram pelo etnocentrismo, atitude na qual se incluem as pessoas que observam as outras culturas em função da sua própria cultura, tomando-a como padrão para hierarquizar as restantes. Desta atitude surgem duas consequências directas: uma incompreensão em ralação aos aspectos das outras culturas, e o aumento do sentimento de superioridade em relação aos elementos de fora com que têm de coexistir. O facto de Derek e os seus amigos acreditarem que deveria existir uma raça pura, mostra que um etnocentrista é incapaz de aceitar os que não adoptam não só modos de vida semelhantes ao seu, mas também os que são diferentes de si fisicamente.
Uma das cenas que mais me marcou foi quando um grupo de negros tentou roubar o carro de Derek, e Derek atacou um deles, matando-o de uma forma violentíssima. O racismo está presente aqui duma forma muito forte, pelo facto de, depois de Derek matar o negro, se vir no seu rosto e nos seus olhos uma sensação de extrema alegria, sempre com um sorriso e os olhos lunáticos presos no irmão, que assistiu a tudo.

Depois de este acontecimento, Derek é preso, e é na prisão que vai descobrir o quanto estava errado. Na prisão, Derek conheceu outros nazis, e percebeu que, aquilo em que ele acredita, e segue, não é levado à letra por outros que dizem ter os mesmos ideias que ele. Esses nazistas que ele encontra na prisão, pela frente parecem ser uma coisa, mas no fundo para eles o que conta é o que conseguem para seu interesse de outras pessoas, independentemente da raça dessas pessoas (o que parece ser, nem sempre o é).
Contra o que Derek esperava, vai-se tornar amigo de um afro-americano, e é na prisão e com a sua ajuda que ele vai reavaliar os seus valores e transformar-se num homem mais correcto e justo. Com o relacionamento com este afro-americano, Derek percebeu que talvez a sua atitude etnocentrista não fosse a melhor, e que as pessoas não precisavam de ser da sua raça para serem respeitadas.

Quando Derek sai da prisão, dá conta que aqueles que o seguiam e que o respeitavam não compreendem a sua nova personalidade, e a próxima luta dele é afastar-se do que era, e tentar que o seu irmão siga a sua atitude, optando pelo interculturalismo e afastando-se de toda a comunidade nazi. Derek quer evitar que o irmão se insira numa vida de ódio, violência e xenofobia, que tanto o marcou. O interculturalismo tem como ponto de partida o respeito pelas outras culturas e defende o encontro, em pé de igualdade, de todas elas.
Este é um filme sem dúvida violento, muito real e, pior que tudo, muito actualizado, pois retrata de forma directa e tocante um outro lado da América ao qual as pessoas preferem fechar os olhos (daí o titulo “América Proibida”), a América dos conflitos raciais entre pretos e brancos retratados ao longo do filme. A meu ver este filme possibilita uma intensa visão sobre o etnocentrismo, nomeadamente o racismo e o fanatismo, a desagregação familiar, o descontrolo, o preconceito e as influências. Relata também o impacto profundo do etnocentrismo, do ódio, que começa a destruir a família e a vida naquelas que optam por esta atitude.
É um filme que tem de ser visto pelo menos uma vez, porque a mensagem que transmite é imperdível.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Viagem á turquia.

27 de Julho de 2010
Queridos pais,
Nem acredito que já estou na Turquia, mais precisamente em Istambul. Aqui tudo é muito diferente de Portugal, basta olhar em volta que á muito mais para ver e muita histórias por detrás de monumentos. Vocês sabem porque vim aqui, vim ajudar a avó Minda que estava muito doente e como já tem uma certa idade, acho que não devia de estar aqui sozinha. Não vos culpo por não virem, não podiam abandonar o trabalho e os custumes do dia á dia. Como sabem, o meu valor primordial é a família, pois é nela que recebo o amor verdadeiro e a alegria constante. A avó sempre me deu aquele amor, que uma avó dá a uma neta. Acho que neste momento está na hora de retribuir tudo o que ela me deu, todo o apoio e carinho. Assim, aproveito e conheço a Turquia, que tem uma cultura, religião e custumes muitos diferentes dos nossos. Penso que esta vinda á Turquia, vai mudar muito a minha vida, irei conhecer novos caminhos e novas experiências de vida. Como a mãe diz “ Nova mudança, nova vida” e penso que é isso que vai acontecer, a minha vida irá tomar outro rumo.
Cheguei a casa da avó e ela estava na cama, mal me viu levantou-se e abraçou-me com muitas saudades e disse “Seni özlüyorum” que em português quer dizer “ tenho saudades tuas”. Como não percebo nada de turco, ela lá tentou falar comigo em Português. Depois de “matarmos” as saudades, sentamo-nos na mesa da cozinha e perguntei várias coisas á minha avó sobre a Turquia. Sabiasm que 99% da população da Turquia são considerados muçulmanos, em sua maioria pertencentes ao ramo sunita do Islão ? Dito isto até parece uma barbaridade, mas os Turcos possui uma grande diversidade cultural e étnica. Quando a avó disse que a Turquia tinha mais ou menos 70.586.256 habitantes, nem quis acreditar. Dito isto, eu e a avó fomos dormir que estavamos ambas cansadas.

28 de Julho de 2010

Acordei ás 5:00 da manhã e foi passear com a minha avó por Istambul. Visitamos vários sitios como a Torre Galata, pois permite apercebermo-nos da geografia particular de Istambul. É uma torre de pedra com quase 70 metros de altura com paredes de 3.75 m de espessura. Fiquei encantada com aquilo, nunca tinha visto algo assim. Depois visitamos a Igreja Santa Sofia, mundialmente famosa, que foi transformada em mesquita sob o domínio otomano e que é actualmente um museu. Aí apercebi-me que os Turcos são muito ligados á sua religião, basta olhar para a mulher tipica turca que pode tapar-se ou não. Comparado com a religião em Portugal, não tem mesmo nada haver. Aqui as pessoas seguem fielmente a sua religião, não indo por obrigação a uma igreja, indo por vontade própria. Acho que isto fez-me perceber que a religião também tem de ser levado “ a sério” na minha vida, ou seja, devida de participar mais na minha religião católica e dar mais valor a ela. Depois de ver os monumentos, decidimos ir a um restaurante almoçar. A avó disse que a gastronomia não tinha nada haver com a de Portugal, tem aqui várias comidas que certamente não iriam gostar. Dedici arriscar e comer iogurte de leite de cabra, misturado com pepino, alho e hortelã. Pelo nome parece uma coisa horrível de comer, mas na realidade é diferente e tem um sabor diferente. E depois de almoçar até disse a minha primeira palavra em turco: “teşekkürler” que em português significa “obrigado”. Apercebi-me que a avó estava bem melhor, ela estava sempre com um sorriso na cara e sempre com aquele gesto carinhoso de avó. Acho que o que realmente ela precisava era de amor, carinho, afecto, já que ela vivia sozinha e á muito tempo que não esta com ninguém da família. Chegamos a casa super cansadas e contentes, acho que nunca tive um dia assim com a minha avó e acho que merecia.

30 de Julho de 2010

Hoje é o meu aniversário, então convidei amigos da avó e amigos que tinha feito para virem cá a casa. Fomos andar de bicicleta por Istambul, apreciar as maravilhas desta cidade. Paramos na Mesquita Azul, pois tinha sido um sítio que ainda não tinha visto. Cada vez ficava mais admirada com a arquitectura de aqui, não tem nada haver com a de Portugal e aqui visitam mais os monumentos históricos e apreciam a arte do país da Turquia. Cada vez sentia mais que podia acolher este país como novo país e acho que a avó ia adorar a ideia, assim iriamos passar os dias juntas e recuperar o nosso tempo perdido. Chegamos a casa e reflecti sobre o assunto, acho que estava mesmo determinada a ficar aqui. Quando falei com a avó, ela achou uma boa ideia e acho que é o ideal para mim.
Com esta viagem aprendi muita coisa, essencialmente a dar valor á minha religião e á minha cultura, pois é algo que muitos portugueses hoje em dia, não dão muito valor. Aprendi a apreciar os monumentos, a experimentar novas comidas, novos modos de vida, essencialmente, acho que a minha vida mudou bastante,. Vou cuidar bem da avó, espero que agora que estou com ela, que se sinta uma outra pessoa mais feliz e segura.
P.S. : Não te preocupes, vou visitar-vos sempre que posso e não se esqueçam que tenho muitas saudades.
Um grande abraço,
Ana Catarina Vieira Araújo.

Argentina

Parece impossível, pois em toda a minha vida nunca pensei em mudar de país assim radicalmente, pelo menos assim para um país tão distante de Portugal. É verdade, vou mudar-me para a Argentina. Já tratei de tirar o passaporte e guardar todos os meus documentos, estou preparada para a viagem que demora aproximadamente 17 horas, e só de pensar que vou para um sítio onde não conheço nada nem ninguém, só me apetece gritar com toda a gente.
Durante a viajem, já quase a aterrar no aeroporto de Buenos Aires já comecei a ver as diferentes formas e tonalidades, as cores vivas da terra e os seus desertos e montanhas. Passados dois dias, quase apenas de viagem e desfazer as malas e ambientar me á casa, acho que estou finalmente pronta para conhecer Buenos Aires.
O clima aqui nem é quente nem frio, é ameno o que me faz sentir melhor, a língua oficial deste país é o espanhol e ainda não me habituei muito bem a ele, apesar de ter ido passar férias a vários sítios espanhóis nunca pensei que passaria ouvir espanhol para sempre, não me parece que vá ser muito difícil adaptar-me mas só o futuro o dirá. Hoje dia 12 de Outubro, é o meu segundo dia cá, e é feriado aqui, celebra-se o dia do Colombo, andam muitas pessoas na rua mas todas parecem silenciosas e pouca dadas a excessos, caminho nas ruas de Buenos Aires e começo a pensar que não conheço ninguém e tudo me é estranho e as saudades já começam a apertar. Buenos Aires não parece ter uma arquitectura fantástica, nem uma quantidade apreciável de monumentos, jardins ou museus mas desperta-me muita curiosidade pelas suas contradições comparando com outros países. Entrei num café para comprar uma garrafa de água e a senhora que me atendeu foi muito simpática e disse me vários sítios que eu podia visitar para ficar a conhecer esta maravilhosa cidade.
Fui andado por várias ruas estreitas e bairros e as fachadas das casas chamavam á atenção pelas suas cores amarelas, verdes, azuis e vermelhas, também nas ruas as esplanadas dos cafés e restaurantes chegavam ao meio da rua e via-se muita gente sentada, o que fez com que sentisse alguma fome. Entrei num restaurante que tinha o nome de El Sanjuanino, e tinha um bufete de carnes diversificado, sempre ouvi dizer que na Argentina os pratos principais era confeccionados com carne de vaca, no restaurante haviam vários quadros nas paredes quase todos eles representando o tango, depois de ter almoçado Bife á argentina estava ansiosa para conhecer a cidade. Finalmente encontrei a Plaza de Mayo a paragem histórica de que tanto a senhora me falou, no centro tem um lago com um chafariz onde estavam várias pessoas sentadas, podia ver algumas pombas no chão e em frente avistei um grande edifício rosa alaranjado, de nome Casa Rosada, sede do governo Nacional.
Depois dirigi-me de metro, um transporte que raramente usava em Portugal, á Recoleta um dos Bairros mais conhecidos pelo seu charme, pelos seus cafés, bares e a sua famosa feira de artesanato. A feira era constituída por barracas todas encaixadas umas nas outras e vendiam coisas muito antigas mas muito engraçadas. Entrei no Hard Rock café argentino que se situa neste mesmo bairro, e fiquei maravilhada com a sua decoração, comi qualquer coisa e voltei para apanhar o metro e voltar para casa pois estava muito cansada.
Quando estava á entrada de casa vi uma rapariga a dirigir-se a mim que supostamente era minha vizinha, o seu nome era Miriam e contou-me e explicou-me tudo sobre a cidade, os transportes, a escolas e as pessoas, também se ofereceu para ir no dia seguinte comigo fazer outra visita pela cidade. Gostei muito de a conhecer e já fico mais contente por saber que conheço alguém pelo menos para conversar.
Fico feliz pela minha família estar feliz, pois como aprendi em Filosofia devemos organizar uma pirâmide de valores para ter linhas orientadoras de vida, e o meu valor primordial é a família, apesar de saber que este valor pode mudar ao longo do tempo penso que se irá manter durante este período da minha vida pois a minha família apoia-me em tudo e neste momento é dela de quem eu preciso mais, também na minha pirâmide segue-se a saúde , a felicidade e a honestidade.
No dia seguinte foi com Miriam visitar a escola que vou frequentar e conheci mais duas raparigas que vão ser da minha turma, ainda não é fácil comunicar com elas pois falam muito rápido mas já me vou habituando a ouvir a língua. Visitamos também o Rio de la Plata e o Puerto Madero sítios maravilhosos, com uma cultura muito diferente, também pude assistir a um espectáculo de tango numa pequena praça perto do rio. Visitamos mais alguns sítios, por exemplo o ZOO Buenos Aires e penso que Miriam vai ser uma grande amiga para mim.
Passados alguns meses…
Já me habituei a quase tudo, na escola fiz outros amigos todos muito simpáticos e acolhedores, já me adaptei á língua e já acompanho bem todas as aulas. Estou a gostar de estar neste país magnífico que apresenta diferentes climas, paisagens e culturas, este mesmo possui um rica herança do passado, com valiosas ruínas e obras de arte, que as populações tendem a preservar, é um país seguro e as pessoas são calmas e cada uma vive a sua vida.
Hoje, quando penso na minha pirâmide de valores, o valor primordial continua a família mas introduzo na minha pirâmide outros valores como a coragem, dignidade e calma. Aprendi aqui também, que tudo o que os outros fazem não é unicamente aquilo que temos que fazer, mas sim se pensarmos antes dos nossos actos muitas das vezes iremos deixar de errar. Tenho saudades de Portugal, mas sou feliz aqui e dou valor a coisas que não dava antes de chegar á Argentina.

Um dia em Chennai

O calor sufocante já se fazia sentir nas ruas de Chennai, Índia, quando um raio de sol penetrou entre as persianas da janela do quarto e embateu na minha cara. Com um salto levantei-me da cama e ao olhar para o relógio, o nervosismo atingiu-me como um raio de sol. Era o meu primeiro dia de aulas numa nova escola, num país completamente diferente. Quando recebi a notícia de que iria viver para Índia, para além de ter noção que seria uma grande mudança, de certa forma gostei da ideia de iniciar uma ‘’vida nova’’ e mal esperava de ir para a escola e conhecer novas pessoas e culturas. Agora que o dia de aulas chegou, de certa forma desejava que nunca tivesse chegado.
Rapidamente aprontei-me e dirigi-me para as ruas de Chennai. O sol já brilhava, o calor vagueava pelas ruas e centenas de pessoas marcavam presença nelas. Os autocarros, cheios de pessoas, preenchiam as estradas, as centenas de táxis, que se deslocavam de um lado para o outro, e as pessoas dificultavam o uso das ruas. Ao tentar deslocar-me naquela confusão, observava as pequenas tendas e mercados que enchiam a cidade de cor com as mil e uma coisas que ofereciam, desde comida, que me era completamente estranha, até roupas, principalmente os tradicionais saris, que eram usados pela maioria das mulheres indianas e que a cor desses mesmos mostrava a que etnias pertenciam. O cheiro intenso libertado pelos veículos misturado com o cheiro da comida tornava o ambiente enjoativo. Uma das tendas libertava um odor bastante agradável e e ao aproximar-me dela, verifiquei que era libertado por pequenos frascos que continham um óleo. Curiosa, perguntei à senhora da tenda o que era e, embora com alguma dificuldade em compreendê-la, fiquei a saber que cada nome tinha a sua própria fragrância e esses pequenos óleos estavam feitos para cada nome. Assim, decidi comprar um pequeno frasco com o odor característico do meu nome, tendo porém alguma dificuldade em pagar à senhora uma vez que não estava habituada à rupia indiana.
Ao chegar ao meu destino, observei atentamente a minha nova escola. Era pequeníssima e antiga. À entrada da escola, uma senhora com um sari vermelho esperava-me. Era a directora da escola e falava muito bem inglês pelo que desta vez foi ela que teve alguma dificuldade em entender o que eu dizia. Começou por mostrar-me a escola que era, tal como se podia verificar do exterior, muito pequena. Finalmente acompanhou-me até à sala, onde iria ter aula, para poder conhecer a minha nova turma. Ao entrar na sala, muito nervosa, senti que todos aqueles olhes negros estavam pousados em mim, o que me causou alguma inquietação. Ao olhar para o quadro consegui entender que estavam a ter uma aula de matemática. A professora, muito simpática, sentou-se ao meu lado e durante toda a aula esteve-me a contar um bocado sobre Índia, uma vez que o meu conhecimento era muito pouco. Após terminada a aula, estava na hora do almoço. Quatro raparigas da minha turma, cujos nomes eram Saranja, Sharmila, Anjali e Priya vieram ter comigo e juntas dirigimo-nos para a cantina da escola. Ao entrar na cantina, cheguei a pensar que iria desmaiar devido ao cheiro intenso a comida que de alguma forma era pouco agradável. Por sorte as minhas colegas de turma aperceberam-se e fomo-nos sentar numa mesa perto da janela. Ao olhar para a comida desconhecida que se encontrava no meu tabuleiro, embora com algum receio, provei e rapidamente peguei no copo de água e tentei apagar o ardor que se tinha instalado na minha garganta. O famoso ‘’chapati e chutni’’ era muito picante. As quatro raparigas começaram-se a rir e decidi não comer mais. Após o almoço, deram-me a provar chá de limão. Já tinha ouvido dizer que os chás de Índia eram muito bons e ao provar aquele chá, de facto, não tinha mais nada a fazer senão concordar plenamente. Depois de um almoço agradável, instalamo-nos no corredor da escola, fugindo assim ao intenso sol e calor sufocante que era frequente em Índia. As minhas colegas de turma fizeram-me muitas perguntas acerca de como era a minha vida em Portugal, como era o meu país, como eram as escolas, as pessoas e a cultura. Com as minhas respostas que, na minha opinião, não eram nada de mais, elas ficavam admiradas de como diferente era Portugal. Quando chegou a minha vez de lhes fazer perguntas, fiquei igualmente admirada mas pela parte negativa, enquanto que elas ficaram pela positiva. Saranja vivia numa pequena casa bastante afastada da cidade, tendo que andar imenso a pé para chegar à escola. Vivia com a mãe e três irmãos, um deles mais velho. Quando chegava a casa ajudava a mãe nos trabalhos domésticos, cozinhava e cuidava dos irmãos mais novos, enquanto que a mãe ia trabalhar para uma pequena fábrica de tapetes. Sharmila vivia na cidade e os pais tinham uma pequena tenda que vendia saris, na qual aos fins-de-semana ia ajudar e. Como já tinha 17 anos, o pai já lhe tinha arranjado um marido e em breve iria-se casar, embora não gostasse do seu futuro marido. Anjaly e Priya eram irmãs e também elas viviam na cidade. A mãe estava muito doente e o pai não conseguia sustentar a família vendendo fruta, pelo que as duas raparigas, após as aulas, iam trabalhar para um pequeno super-mercado. Quando olhamos para o relógio já passava da hora do início da aula de inglês e corremos até à sala. A aula de inglês foi bastante animada porque o inglês falado em Índia é diferente do que costumamos ouvir, sendo assim engraçado ouvir indianos a falar inglês. Terminado este primeiro dia de aulas, Sharmila acompanhou-me até casa. Durante o percurso até casa, enquanto falava com Sharmila, senti de repente alguém tocar-me no ombro. Ao olhar, estava uma senhora velha atrás de mim, com um ar cansado e triste. Esticava a mão na minha direcção e suplicava por dinheiro. Assustada, recuei e fui empurrada por Sharmila, que mandava a velha senhora embora. Ainda assustada com o aspecto da senhora, que era horrível, e a pensar na súplica dela, Sharmila disse que é costume haver pessoas a pedir dinheiro e, muitas vezes comida, nas ruas de Chennai mas, que devia começar a acostumar-me a isso e simplesmente ignorar.
Finalmente tinha chegado a casa e foi nesse momento que a saudade por a minha ‘’antiga vida’’ começou a surgir e não consegui conter as lágrimas. Sentia falta dos meus amigos, da minha família, da minha casa, enfim, sentia falta de tudo.
Este dia ajudou-me a entender uma coisa: Só damos valor ao que temos quando o perdemos. Neste caso, umas semanas atrás, não dava muita importância a pequenas coisas que faziam parte da minha vida como, ir para a escola, passar esse tempo com os meus amigos e outros pequenos actos que eram frequentes. Após este dia, dava tudo para ter esses pequenos momentos de volta. Nas aulas de filosofia, quando abordamos o capítulo dos valores, aprendi que a pirâmide dos valores, que construímos, pode vir a mudar com o tempo e com a experiências que o indivíduo vai adquirindo ao longo da vida, assim como pode variar em função do grupo social e da cultura.
Indía é um país fascinante que, por detrás desse fascínio, esconde muita coisa. A pobreza extrema é visível nas suas cidades e ao mesmo tempo é completamente ignorada. As mulheres não são livres de escolher os seus maridos. Jovens são obrigados a trabalhar pelo facto de a família, de outra forma, não ter maneira de sobreviver. Tudo atinge a nossa sensibilidade, pelo que não podemos ficar impassíveis perante aquilo que nos rodeia. Porém não é o que acontece neste país. Na minha opinião, esta primeira experiência neste país tão diferente do nosso, certamente mudará a minha pirâmide dos valores. Liberdade vai começar a fazer parte dos meus valores, assim como dignidade humana e justiça. Nunca antes tinha reflectido sobre tais coisas podendo assim admitir que esta mudança me ajudou a reflectir melhor.
Após ter reflectido sobre isto, desloquei-me até à janela, abrindo-a, observando assim a cidade de Chennai coberta pela noite e respirando uma brisa de ar fresco que invadiu o quarto, pensando como seria o dia de amanhã e esperando que um dia me pudesse vir a habituar a esta novo país.
Afeganistão. Foi para lá que me dirigi, nas férias de Natal do ano passado. População: 22 789 000 pessoas.

Este era, seguramente um dia completamente normal para as todas as pessoas locais, já que cada um fazia o seu dia-a-dia na rua normalmente. Mas, para mim aquele dia iria ter uma importância acrescida para mim.
Quando cheguei a Cabul, a capital do Afeganistão, ia ser acolhida por um casal afegão, que se ofereceu, para me receber na sua casa. Já tinha ouvido falar da famosa burka, mas nunca tinha visto uma ao vivo e a cores. Quando vejo ambos, reparo então, na mulher, fitando-a atentamente. Estava coberta da cabeça aos pés e a única coisa que conseguia ver era os seus imperturbáveis olhos, quase estáticos, como se eles tivessem perdido a vida naquele preciso momento. A burka é uma espécie de véu que cobre o corpo inteiro das mulheres afegãs e que é obrigatório neste país. Quando saio lentamente do “ táxi”, reparo nas expressões de choque e de surpresa, do meu casal de acolhimento. De repente, eles fitam me dos pés à cabeça como se eu tivesse cometido algo de errado... Apercebo me que sou uma estranha para todos os que estavam perto de mim, pois não me vestia como a maioria das mulheres locais, e ainda para mais era estrangeira.
É então que começo a ouvir gritos por toda a parte e vejo durante uma milésima de um segundo, dois homens armados (polícias), a dirigirem - se na minha direcção.
Apercebi – me então que estava a cometer um grave crime: não tinha a burka vestida e estavam naquele preciso momento, a prender-me. Fui escoltada para um carro de patrulha e onde fui transportada para a esquadra local. Aí foram me lidos alguns dos direitos das mulheres talibãs, alguns dos quais acerca do vestuário a usar tais como:
“É obrigatório o uso de véu completo que as cubra da cabeça aos pés ”
“É proibido qualquer tipo de maquilhagem. Foram cortados os dedos a muitas mulheres por pintarem as unhas “
“ É proibido usar saltos altos que, ao andar, produzem sons perceptíveis pelos homens “
“ É proibido o uso de roupas coloridas ou consideradas sexualmente atractivas. “
“ É proibido o uso de calças compridas, mesmo debaixo do véu.”
“Se as mulheres não usarem as roupas adequadas e mostrarem os calcanhares, podem ser verbal e fisicamente agredidas, nomeadamente chicoteadas.”
Sendo assim, eu estava a infringir algumas regras de vestuário já que estava: de calças e com roupa colorida. Os polícias estavam agora a ler-me a sentença. Esta não deverá ser muito pesada, já que ainda era nessa altura, menor de idade, e assim, cumpriria uma pena mais leve do que o normal. Naquele momento, não estava muito preocupada com o que me ia acontecer já que, tinha desrespeitado numa grande escala, a cultura afegã, e sentia-me muito envergonhada, já que podia ter feito um pouco de pesquisa antes de sair de Portugal, para conhecer um pouco mais acerca desta cultura. No minuto seguinte, ouço um estrondo enorme e estridente atrás de mim. Parecia que todo o edifício tinha desabado, e com ele tinha levado as paredes da sala em que me encontrava. A partir deste momento desmaiei, perdi a consciência.
Não sei quanto tempo tinha passado ou se já tinha passado para outro mundo, senão o real. Acordei com uma estranha sensação que me tinham batido ou que estava demasiada perturbada para conseguir pensar e nem sequer ver. Tento então, clarificar as minhas ideias, para que o meu cérebro funcione novamente, e talvez pensar numa maneira que me tirava deste pesadelo rapidamente. Olho então para trás de mim, e vejo os dois polícias caídos no chão inconscientes, extremamente pálidos e com várias feridas na cara. Comecei a levantar – me mas parecia que não sabia andar e estava-me a tornar num robô. Estava muito nervosa com tudo o que tinha acontecido. Foi então que comecei a chorar e a tremer. Ao fim de algum tempo, consegui finalmente levantar-me no chão, e comecei a dirigir-me para o exterior do que restava da esquadra, ainda em estado de choque. Se eu achei que o sítio onde me encontrava antes estava em más condições, cá fora o cenário era muito pior e catastrófico. A atmosfera estava coberta por uma nuvem de fumo muito espessa, havia vários carros na rua a arder e ainda, imensos feridos. As pessoas gritavam desesperadas “bomb!”, ou seja, tínhamos sido alvos de um atentado à bomba. Lembrei-me que tinha lido algures acerca da guerra que estava a acontecer no Afeganistão, à alguns anos atrás. O país estava em guerra devido ao conflito entre os Sunitas e os Xiítas, que pertencem ao Islamismo. Consegui fugir, e depois, refugie-me numa pequena pensão, longe da grande cidade de Cabul.
Agora estou de volta a Portugal, na minha casa para registar esse longo e inesquecível dia que passei nesse longínquo país. Entretanto, o governo afegão retirou-me a acusação, por ainda ser menor de idade. No fim disto tudo digo apenas que dei muito mais valor à mulher na cultura Ocidental, e ela deve ser tratada de forma igual aos homens. Apercebi me então das diferenças que existem entre o meu país e este que visitei, e fiquei feliz por não existirem essas regras em Portugal. Continuo a seguir com atenção, os casos de mulheres corajosas, que desafiam os seus valores culturais para mostrarem que têm de haver mudanças e lutam pela igualdade de direitos entre os dois sexos, mesmo que para isso sacrifiquem a sua vida, para dar voz a um grupo que se sente discriminado.

Nas duas perspectivas:

HOMEM:
O seu valor primordial seria neste caso, a obediência e a lealdade, já que as mulheres na sociedade afegã, são tidas como inferiores em relação aos homens.

MULHER:
O seu valor primordial seria a liberdade e a igualdade, já que estas são vistas como objectos na sua sociedade.

“ Os Homens representam a virtude e elas tudo quanto é pecado, motivo por que têm que expiar e carregar todos os males do Mundo. Porque eles são a virtude e elas o pecado. “

Elmano Madail
Eu, de férias…

Como destino de férias escolho a capital indiana, Nova Délhi, talvez por ser um destino de férias com uma cultura totalmente diferente da minha. Esta é a experiência que vos vou contar:

Saio do aeroporto e o que é que vejo?

Uma multidão de indianos a andar de bicicleta, moto bicicleta, e “alguns” carros parecia que tinha entrado num autêntico “formigueiro”, o que me deixou muito espantado.

Quando o guia veio-me dizer que estava na altura de almoçar, (já não era sem tempo) levou-me até ao restaurante do hotel.


O empregado trouxe-me uma lista de pratos disponíveis para pedir, como não percebia nada de cozinha indiana pedi um prato completamente à sorte, Tanduri, quando o empregado trouxe o prato apercebi-me que era uma boa escolha, frango temperado com ervas aromáticas e assado em forno de barro e para beber nimbu pani (limonada).

Assisti a uma demonstração de dança clássica indiana, Bharathanatyam é um estilo dançado essencialmente por mulheres, com vestidos típicos indianos ao ritmo de música indiana.

Visitei alguns santuários religiosos indianos, no centro de Nova Délhi. A religião na índia tem uma força muito grande, muitas das obras que os indianos fazem são inspiradas na religião, apercebi-me então que a filosofia indiana está muito ligada à religião.

Um dos principais motivos que me levou a escolher a Índia como destino de férias foi Khumba Mela, o principal festival do hinduísmo e o maior festival religioso do mundo, que ocorre quatro vezes a cada 12 anos, em Allahabad, onde milhões de devotos hindus se reúnem para se banhar no Sangam, local de encontro dos rios sagrados Ganges, Yamuna e Saraswati para se purificar.


Quando lá cheguei fiquei estupefacto, nunca tinha visto tanta gente junta, uma concentração de cerca de 70 milhões de pessoas, nem sequer consegui chegar as margens do rio era “impossível”, fiquei a ver apenas, de um sítio alto com o resto do grupo, aqueles fanáticos a entrarem para o rio como se fosse uma necessidade de vida.

No final da viagem, fico descontente de ir embora e o tempo ter passado depressa, nunca pensei que a mentalidade dos indianos fosse tão diferente da Europa Ocidental e isso explica a grande diferença de valores primordiais ao ponto de dar mais valor a uma vaca do que a uma pessoa. Estou aqui no avião de regresso a Portugal, já com a ideia de um dia regressar, apesar de ser contra alguns costumes indianos.

Contraste de valores

Ban Nai Soi , Janeiro de 2010
Queridos pais,
Já estou aqui há muito tempo, tanto que não sou capaz de me lembrar do vosso rosto. As saudades são tantas que decidi escrever-vos, para ver se este aperto que tenho acaba. Não vos telefonei antes porque não existem meios de comunicação, alias nem sequer existe uma casa de banho quanto mais.
Vocês sabem de como eu ia ansiosa para ver e conviver com a verdadeira natureza, mas isso não passou de uma utopia. Todos aqueles paradigmas que me incutiram sobre o que era a verdadeira natureza, como se a sociedade em geral soubesse o que é a verdadeira natureza e pobreza.
Nesta aldeia, conheci uma tribo chamada Karén ou, mais popularmente conhecida, por "as Karén de pescoço comprido". Para os conhecer de perto tive de pagar 250 Bath (5 euros), disseram-me que eram do governo da Tailândia e que os fundos eram para ajudar esta etnia. Para vos ser sincera, não acreditei no que me disseram, nem mesmo quando me apontaram uma arma, pois, a Tailândia não consideram tailandeses os Karén, mantendo-os prisioneiros ao ar livre, com fronteiras bem vigiladas para ninguém sair, a não ser os turistas.
Os Karén são apenas uns refugiados e prisioneiros, fugiram para o meio da natureza para conseguirem criar as suas próprias leis, no entanto, acabaram por ficar prisioneiros ao ar livre.
Todos os que entram nesta aldeia, ficam fascinados pelas espirais que as mulheres têm no pescoço, tirando-lhes fotografias como se tratassem de animais num jardim zoológico, acabando até por lhes chamar " as mulheres girafa".
Uma coisa que me impressionou foi...conhecer a Major. Ela tinha 19 anos e conseguia falar tantas línguas com muita perfeição que ...fiquei estupefacta, pois as escolas de lá, se é que se pode chamar escola àquilo, não tinham professores de línguas estrangeiras. Inglês, Espanhol, Francês, Basco, Catalão, Galego... mesmo muito surpreendente, tudo aprendido com turistas como eu.
Desde o início, gostamos uma da outra e até me convidou para ficar lá por uns tempos, mas com a condição de ela me mostrar e ensinar a sua cultura e eu ensinar-lhe Português (era a única língua que ela ainda não tinha aprendido).
A Major explicou-me que quando tinha 5 anos, a mãe lhe colocara 5 espirais no pescoço, pois para elas as espirais significavam elegância e serviam para mostrar a riqueza das mulheres. Por vezes, estas espirais funcionam como castigo, pois,quando as mulheres cometiam o adultério, eram-lhes retiradas as espirais e assim as mulheres passavam a ser consideradas mortas (espiritualmente). Olhem, se fosse na nossa sociedade, quantas é que seriam assim...já imaginaram?
De manhã, bem cedo (sem tomar o pequeno-almoço...mas que fomeca) preparamos as tendas para vender alguma coisa àqueles turistas que vinham visitar "as mulheres girafa". Mas que nervos que me deram aqueles estrangeiros comportarem-se como se nós fossemos animais(nós,porque nesse dia, eu também tinha espirais no pescoço, 5 para ser mais especifica). Aí...como são tão pesadas, só consegui andar com aquilo durante 2 horas...acho que não está mal para quem não está habituada a isto.
Entretanto, já eram horas de jantar e eu tive de ir comer, não sei bem se aquilo eram gafanhotos ou minhocas, mas pensando bem, até era saboroso...(tenho saudades dos cozinhados da mamã,..uuaahhh). Pior de tudo, é quando chove, há sempre umas quantas pingas que me molham toda e o chão onde durmo, até é engraçado...pois continuo a gostar da trovoada.
Dentro de 3 dias, estou de volta a casa.
Uma regalia que a Major não tem, visto que não pode sair daqui, nós bem tentámos mas nada...mas, mesmo não sabendo como o mundo é lá fora, ela sabe que é bem diferente, e sabe Português, nada mau para quem nunca saiu desta prisão ao ar livre.
Antes de me ir embora, vi que eram FELIZES, mesmo aqui aprisionados sempre sonhando e com a esperança de algum dia puderem sair da aldeia(um sonho improvável de se concretizar, mas não impossível),sempre com a eterna dúvida "será que o mundo lá fora é mais belo do que aqui?". Uma resposta que todos os turistas como eu não sabem responder.
Mas quando chegar, conto-vos mais coisas espantosas, que a Major em ensinou.
Grandes beijos, da vossa filha que vos ama muito,
Inês Andias Ferreira
P.S.- Papá, tinhas razão, o mais importante é a nossa LIBERDADE.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Em Busca do Conhecimento Grego

1 de Agosto de 2010
Hoje vou ter a oportunidade, talvez única, de conhecer a Grécia e aprofundar a imensa filosofia que até agora ouvi falar.
Não é que seja um destino de sonho mas já que surgiu o melhor é aproveitar!
A curiosidade e o nervosismo apertam cada vez mais, visto que é a primeira vez que ponho os pés num avião.
Sempre ouvi dizer que em Agosto há uma grande vaga de calor por aqueles lados e por isso não sei se este mês foi o indicado para esta viagem, mas vamos a isto!

2 de Agosto de 2010
Acabei de me instalar num hotel em Atenas – “Electra Palace”- cinco estrelas, um luxo sem duvida!
Estava exausta da viagem, mas a sedução daquela cidade parecia que me chamava.
Sinceramente apercebi-me que essa sedução não passou de uma ilusão quando resolvi
sair à rua e ver apenas pedras à minha volta!
Gulosa como sou e com a barriga a implorar por comida, não resisti em provar a culinária. Enquanto em S. João da Madeira comia por vezes o Kebab ‘rasca’ no shopping 8ª Avenida, cá pude provar o original sabor! Sabores deliciosos e baratos, felizmente. A crise é mais visível na Grécia do que em Portugal, por isso não me admirei dos económicos produtos.
Já com o estômago cheio e com a consciência composta, fui visitar lugares. Enxerguei
que o monte de pedras eram os maravilhosos monumentos com milhares de anos, que se encontram em postais tão frequentemente!
Infelizmente foi o facto de não faltarem piropos, drogados e ladrões. Certamente há gente muito desocupada!
Voltei para o quarto de hotel e desfrutei o resto da noite com direito a todas as regalias possíveis.

3 de Agosto de 2010
Sendo conselho da recepcionista, acordei às 5:30 para aproveitar para ver o maravilhoso nascer do sol. É realmente único e nunca semelhante ao nosso português.
Hoje aproveitei para fazer conhecimentos a nível filosófico e não só. Visto que os gregos tiveram uma grande influencia mundialmente devido às artes: pelos seus espantosos monumentos onde mostram grande esplendor cultural; desportos: pois foram os gregos que desenvolveram os jogos olímpicos em homenagem aos seus deuses, principalmente Zeus; tecnologia e ciências; mitologia: em que para explicarem os acontecimentos no mundo, os gregos criaram mitos e lendas em que eram envolvidos monstros, heróis e deuses como o conhecido ‘Cavalo de Tróia’ e ‘Os Doze trabalhos de Hércules’; teatro, e claro, o grande desenvolvimento filosófico em Atenas onde os filósofos gregos pensavam e criavam teorias para explicar a complexa existência humana, os comportamentos e sentimentos, como principais filósofos gregos
Platão e Sócrates.
Juntamente com os Filósofos, os Sofistas também se destacaram pois eram as pessoas
que estavam contra os pensamentos gregos filosóficos. Os sofistas questionavam coisas já
aprovadas, o que provocava uma certa raiva nos filósofos. Eles diziam o que pensavam às pessoas interessadas, em troca de dinheiro ou materiais valiosos.
Acabado este dia cansativo com tanta informação sobre este povo voltei para a minha
suite preparar-me para mais um dia cheio de surpresas.



4 de Agosto de 2010
Com as malas já feitas para o final desta viagem, a decisão foi que haveria de voltar não de avião mas sim no cruzeiro a partir das Ilhas Gregas, mais propriamente da Ilha Santorini. A caminho desta, vi uma imensidão de ciganos aos berros a reclamar pela falta de necessidades, como higiene ou alimentação e com aspecto bastante machista. Certamente que a educação dos gregos não era nada daquilo.
Como se costuma dizer que o melhor fica para ultimo, desfrutei do bom tempo de Agosto naquele deslumbrante barco e a recordar a minha pirâmide de valores em que o valor primordial defini sendo a Felicidade. Sabendo que não é algo fixo mas que pode vir a mudar ao longo da vida de acordo com a vivência pessoal. Neste momento não mudaria porque todo este conhecimento que adquirimos no mundo e a experiência que alcançamos com outras culturas traz de certo felicidade evoluindo assim a identidade de cada um e até mesmo a auto-realização.

Estado de Orissa - Índia


Olho à minha volta, estou no Estado de Orissa na Indía. Tudo é estranho, diferente, não conheço nada nem ninguém, apenas a minha mãe e o meu “eu”. Cheguei hoje e as saudades do meu país já são muitas. Amanhã será um novo dia, será que vou gostar de estar aqui? Será que vou ser feliz neste lugar? Será que alguma coisa irá mudar, a minha personalidade, o meu “eu”? São muitas as perguntas sem resposta e só o tempo me poderá esclarecer quanto a isto...
A minha mãe está feliz e eu tenho que estar feliz por ela, temos que nos ajudar nesta mudança radical. Segundo a minha pirâmide dos valores que defini à algum tempo atrás, a família é o meu valor primordial e só quero que ela esteja bem, seguindo-se a humildade, a auto realização, o amor e a saúde.
Ela apresentou-me a filha de uma colega do seu novo trabalho chamada Yasmin Provoska. É uma bela rapariga e por acaso é da minha escola, até agora temos andado sempre juntas apesar da dificuldade em comunicarmos pois a pronúncia inglesa tem pequenas diferenças. A Yasmin tem sido uma ajuda preciosa e tenho aprendido muitas coisas novas sobre a sua cultura, a sua forma de viver, os cozinhados típicos e a sua religião. Aqui é tudo estranho, nada parecido com Portugal.
Estou aqui à pouco tempo, mas o suficiente para perceber a tristeza que envolve os olhos escuros da Yasmin, foi aí que lhe perguntei o porquê? Ela decidiu desabafar comigo, visto que não tem mais ninguém com quem falar, e contou-me que a sua mãe tem sofrido muito desde que se casou com o seu pai. A mãe da Yasmin quando tinha dezasseis anos foi obrigada a casar-se pelos pais, e desde aí que sofre de maus tratos, abusos sexuais e a liberdade que tem é mínima, apenas pode estar em casa a fazer os seus trabalhos domésticos (com as menores condições de vida) e cuidar da sua filha, mais nada. No nosso país uma mulher neste estado já estava divorciada há longos anos, mas aqui não, seria uma vergonha para a família da mãe da Yasmin. Neste país os homens tratam as mulheres como se fossem um objecto, nunca tinha visto tanta crueldade, assistir a esta maldade toda com os meus próprios olhos é mesmo muito triste!
Hoje vejo as coisas de outra forma, os meus principais valores são: a família, o amor, a coragem (que as mulheres deste país têm que ter), a dignidade e a liberdade (que antes nem dava importância e hoje vejo que é realmente essencial para estarmos bem connosco próprios), por esta ordem respectivamente. Nunca pensei muito nas noticias que via no telejornal, mas é mesmo a realidade do Mundo em que vivemos com tantas desigualdades e injustiças. Agora sim, depois de ver tudo isto consigo responder a todas as perguntas que me questionava no primeiro dia em que cheguei à Índia. Sou feliz aqui, aprendi a dar valor a coisas que nunca tinha pensado antes e percebi que os nossos valores não são eternos e mudam consoante as situações que surgirão na nossa vida!

Nova Morada

Nova Délhi, capital da Índia vai ser a partir de agora a minha nova morada. Este é o meu segundo dia na Índia. Ontem cheguei por volta das 18h, foi um final do dia muito cansativo. Começamos por desfazer as malas e limpar a casa onde iremos ficar instalados.
Eram 20h e a barriga começou a “dar horas”, estava esfomeada… Quando acabei de jantar, foi logo para a cama. Estava com algum receio que estranhasse a minha nova cama e não conseguisse adormecer, mas estava enganada, foi, como se costuma dizer, “tiro e queda”.
São 8h da manha, acordei com a esperança de olhar pela janela e ver a minha pequena e bela cidade de S. João da Madeira, mas isso não acontecera, agora tudo são apenas memórias daquela bela cidade.
Enquanto olhava pela janela pensei no tema que tinha dado recentemente nas aulas de filosofia sobre os valores e valoração. Cada um construiu a sua pirâmide de valores em função das suas prioridades, e com isso aprendi que ao longo da vida esta pirâmide poderia sofrer modificações. Seria este um desses momentos? Nessa minha pirâmide o meu valor primordial é a família e penso que independentemente das “vira-voltas” que a minha vida virá a sofrer, esse valor irá permanecer sempre em primeiro lugar, principalmente agora. Em relação aos outros valores, só com o tempo saberei se irão ser modificados ou não.
Neste momento o meu principal objectivo é tentar saber mais sobre a cultura indiana para me poder integrar. Decidi pegar na minha mochila e ir visitar as ruas da cidade, monumentos, para me ajudarem a conhecer melhor a cultura indiana.
O que sempre me atraiu na índia e na sua cultura foram os seus monumentos característicos, o modo como as pessoas se vestem, aqueles vestidos compridos e brilhantes… Apesar disso, há coisas que ainda me assustam, como por exemplo as regras e crenças que as mulheres são obrigadas a viver e obedecer.

Ao explorar a cidade apercebi-me que quase tudo na Índia é baseado na espiritualidade. O grande propósito da cultura indiana é conhecer Deus, seja em seus aspecto pessoal ou impessoal.
Quando ia a caminho de casa passei por um centro de comércio, havia uma grande multidão naquela zona, de longe pareciam todos umas formigas irrequietas a andar de um lado para o outro. Enquanto andava a ver aqueles brilhantes vestidos numa tendinha que lá existia apercebi-me que numa tenda ao lado existia umas figuras pequenas de pessoas com cabeça de animais. Naquele momento achei um bocado estranho, por que razão é que alguém iria comprar aquilo? Que piada é que aquilo tinha? Foi então que perguntei ao vendedor que por sua vez era muito simpático que significado é que aquilo tinha. Ele chamava-se kabir e explicou-me que aquilo era os vários deuses da religião Hindu. Também me explicou que a espiritualidade indiana está profundamente enraizada em tradições filosóficas e religiosas.
A Filosofia surgiu na Índia como uma pergunta sobre os mistérios da vida e da existência. Os sábios descobriram que a verdadeira natureza do homem não é o corpo ou a mente, que estão sujeitos a mudanças e ao perecimento, mas sim o espírito que é imortal e de pura consciência.
A principal mensagem desta cultura é a aquisição de conhecimento e o afastamento da ignorância. A ignorância representa a escuridão e o conhecimento a luz.
Fiquei muito fascinada pela maneira como a cultura indiana encare as coisas e como é a sua filosofia, estes preocupam-se essencialmente em conhecerem-se a eles próprios e nunca permanecerem neutros, na sua ignorância.
Cheguei a casa estupefacta com as coisas que tinha aprendido naquele dia, quem diria que a cultura indiana fosse tão interessante. A índia passou assim não só a ser uma nova morada mas também um novo caminho de luz na minha vida.

Depois de 6 meses na Arábia Saudita.............

Dia 16 de Fevereiro de 2010

Acabo de chegar à Arábia Saudita. É sexta-feira e são, sensivelmente, 11:50. Custou-me largar a minha família, os meus amigos, mas tive de o fazer. A proposta era irrecusável. Trabalharia para um grande chefe duma agência petrolífera, a receber um bom ordenado. E sempre posso visitá-los nas férias e falar com eles todos os dias pois as novas tecnologias permitem-no.

Está calor e, por isso, estou de t-shirt e calções. Apesar do grande calor (deve andar por volta dos 39ºC), as mulheres estão com compridos véus negros a cobrir-lhes o rosto, apenas deixando à vista os olhos. Neles, consigo detectar alguma infelicidade. Pergunto ao meu guia porque andam elas assim. Ele diz-me que as mulheres apenas podem mostrar o corpo ao seu marido.

Ando pelas ruas e vejo uma mesquita. O guia diz-me que está quase na hora da oração pública e ele, como era muito devoto à religião, tinha de rezar, pedindo-me para o acompanhar e, deste modo, conhecer mais um pouco da sua cultura. Eu aceito o convite.

Durante o caminho até à mesquita, ele diz-me que após a oração pública irá realizar-se o khutbah.

Ele explica-me que o khutbah não é um sermão religioso, mas sim um discurso onde se aprofundam as questões políticas, sociais e morais que dizem respeito à comunidade islâmica.

A adesão é enorme, como deduzi, pois sabe-se que os árabes são muito religiosos, chegando até ao fanatismo.

A reunião termina e vamos almoçar. Eu peço carne de porco ao empregado e ele quase que me mata ali, ameaçando-me com uma faca. O meu guia, mostrando sangue-frio, levanta-se e começa a falar com ele, explicando-lhe que eu era um turista e do país de onde eu vinha era muito frequente comer-se carne de porco.

Ele lança-me um olhar fulminante e diz para sairmos imediatamente do estabelecimento.

Saímos e eu peço desculpa ao guia por tê-lo colocado naquela situação. Ele esboça um sorriso e diz-me que, para a próxima, eu devo pedir peixe.

Encontramos outro restaurante e entramos. Eu sigo a recomendação do guia e peço peixe.

Após o almoço, vou falar com o meu futuro chefe, um senhor de uma idade avançada, a quem chamam de Xeque Muwafaqq.

Ele faz-me a proposta, apresenta-me o papel do contrato. Eu leio atentamente e assino.

Dia 16 de Agosto de 2010

Passados 6 meses, a minha vida é totalmente diferente.

A religião, que antes não tinha qualquer importância, passou a ser a coisa mais importante para mim. Assisto a todas as reuniões na mesquita, respeito todas as horas de oração. Converti-me ao islamismo talvez por medo de ser excluído, talvez por ver aquela grande fé.

Também fiquei mais machista. O poder que os homens têm sobre as mulheres na Arábia é imenso. Elas fazem tudo o que quisermos, como se de animais de estimação se tratassem.

A minha humildade desapareceu, dando lugar à arrogância e a uma superioridade que nunca antes tinha sentido.

Não contacto a minha família já há algum tempo pois, agora, considero-os inferiores a mim por serem de outra religião. Em certa parte, são meus inimigos.

O poder transformou-me. Agora sou tudo o que nunca pensei ser, o que odiava que as pessoas fossem: um ser machista, arrogante, que usa o poder para ter tudo o que quer e que submete os outros aos seus desejos.

Há 6 meses atrás, considerar-me-ia um ser repugnante. No entanto, sinto-me bem com o que tenho, com o que sou. Nunca pensei que a cultura pudesse mudar tanto os interesses e a personalidade das pessoas, mas parece que estava errado.

Voluntariado no Haiti.

21 de Junho de 2010
Dia 3 de Junho, depois do jantar, os meus pais disseram-nos que queriam ter uma conversa familiar comigo e com o meu irmão mais velho. Ao princípio fiquei um pouco assustada (pensei mesmo que a minha mãe estivesse grávida… pela quinta vez!).

Mas não era uma nova gravidez, era a notícia de uma proposta que tinha sido feita aos meus pais: a proposta de ir fazer trabalho de voluntariado durante meio ano para o Haiti. Ao início fiquei um bocado desorientada (e os filhos, e o trabalho, e a casa?). Pensei em todos os compromissos da vida que os meus pais iriam deixar para trás (mesmo se apenas durante meio ano, com certeza essa viagem acarretava muitas consequências).

Naquela noite mal consegui dormir. E se dependêssemos que outros viessem cuidar do nosso corpo e animar a nossa alma? Podemos ajudar aquelas pessoas de diversas maneiras, e os meus pais descobriram as suas. E se fosse cá, na nossa cidade? Se fosse com a nossa família, ou com amigos nossos? Muitas vezes a dimensão da coisa só faz sentido para alguns quando toca directamente sobre as suas vidas. O mais importante para aquelas pessoas não é uma ajuda somente monetária, nem precisam somente que a indiferença seja vencida, precisam sim que as pessoas possam transformar isso em actos.

Depois desta reflexão toda, também eu comecei a ficar cativada por esta escolha dos meus pais. O meio ano que os meus pais iam ficar no Haiti compreendia as férias grandes, os meus três meses de férias. Será que eu também não podia fazer a minha parte? Talvez em vez de ficar na praia, ou em vez de me divertir com os meus amigos, devesse tentar fazer alguma coisa concreta por aquelas pessoas. “A não indiferença perante o mundo implica que a nossa vida não signifique apenas contemplar passivamente, mas antes agir e participar”.

Nas aulas de Filosofia, de acordo com o tema “Análise e compreensão da experiância valorativa” que estávamos a estudar, cada um construiu a sua pirâmide dos valores. A hierarquizaçao dos valores pode ser efectuada de diferentes maneiras, conforme as pessoas e as circunstâncias. Mas as hierarquias que vamos fazendo ao longo da nossa vida não se estabelecem de modo arbitrário, como se todos os valores possuissem um grau de valiosidade equivalente, ou se o modo de valorar fosse um acto meramente aleatório. A selecção dos nossos valores fundamentais implica um comprometimento pessoal. Um dos valores com maior valência que pus na minha pirâmide foi a solidariedade. Ora, se temos de nos comprometer com os valores que escolhemos, mais uma razão que me deu força e coragem para levar a minha ideia avante.

No dia seguinte fui falar com os meus pais, e perguntei se havia a possibilidade de eu também ajudar durante os meus três meses de férias. Apesar da admiração inicial, eles ficaram bastante contentes com a minha atitude, e foram tentar saber se haveria alguma coisa que pudesse fazer no Haiti. A resposta foi rápida, e sim, realmente havia uma coisa que eu podia fazer. Disseram que podia ajudar com as crianças, passar algum tempo com elas, porque o número de crianças que ficou sem pais é enorme, e neste momento muitas delas não têm ninguém.

Quando contei às pessoas a decisão que tinha tomado, muitos pensaram e tentaram fazer-me ver o horror que estava lá, a quantidade de mortes que tinha havido e o desespero que as pessoas estavam a passar. No entanto, eu só conseguia penser nos vivos que ainda lá estavam. Especialmente, nas crianças! O número de crianças orfãs no Haiti já era enorme (umas 380 mil!), e, após o terramoto, aumentou para dezenhas de milhares.

Amanhã é o dia da partida. Não vou dizer que estou serena, convicta de que vai correr tudo bem. Não, tenho de admitir que o medo é muito. Desde que se começou a aproximar o dia, tenho sentido cada vez mais medo, mais ansiedade, e tenho pensado mais nas coisas que vou deixar para trás durante estes três meses. Principalmente nos meus irmãos. Eu sei que eles ficam bem, aliás, os meus pais não seriam capazes de ir se não tivessem a maior das certezas de que eles ficam em boas mãos.

Mas, apesar de todas estas dúvidas, acredito que seja a melhor atitude que possa tomar, e sem dúvida que estou a ser fiél aos meus valores.



15 de Julho de 2010

15 de Julho ... Como vêm, já passou imenso tempo desde que cá estou! Peço desculpa por nunca mais ter escrito nada, mas a vida aqui (como devem imaginar) não me tem permitido fazê-lo.

Tenho de admitir que nos primeiros dias da minha estadia aqui no Haiti, estava a ser difícil a minha adaptação. Ainda se sente muito o clima de violência causado pelo sismo, apesar de se notar uma grande diminuição ao longo do tempo.

O idioma oficial de cá é o francês, mas a maioria das pessoas fala o créole, um dialeto do francês que incorpora palavras africanas. Para minha sorte, tanto o próprio francês como esta derivação, o créole, são línguas semelhantes ao português, e rapidamente me habituei a falá-las.

Acredito que estejam curiosos, e que queiram saber como é o meu dia-a-dia por cá! Bem, eu máto-vos a curiosidade, e vou tentar falar um pouco da minha rotina (apesar de mudar todos os dias, porque todos os dias acontecem coisas novas!).

Muitos devem pensar que estou a viver numa tenda de um metro cúbico com mais de mil pessoas... Não, não! Também não chegou a esse ponto! Neste momento estou instalada numa grande tenda, que foi instalada para acolher todas aquelas crianças que ficaram sem ninguém. É como um orfanato improvisado. As condições aqui não são más de todo, temos tido o apoio de várias organizações, que arranjaram camas, casas-de-banho, jogos para as crianças, roupa,...

A fauna de cá é caracterizada por animais de pequeno porte, com algumas espécies de roedores e um grande número de insecto e répteis, sendo os lagartos e as iguanas os mais comuns (no ínicio, foi difícil para as pessoas habituarem-se aos meus "guinchinhos", mas agora já se habituaram, e até acham piada). Quase todos os Haitianos são negros, mas existem também alguns mulatos e outros brancos (a percentagem de brancos é muito reduzida, mas visto que estão por cá muitos voluntários brancos, o número aumentou um pouco). A maioria da população de cá é católica, e existe até uma tenda onde se celebra uma missa por dia. A religião cá é muito praticada, e as pessoas têm uma fé enorme.

Agora falando da minha rotina... Acordo por volta das oito da manhã (é conforme as crianças: se acordarem cedo, eu acordo também cedo, se acordarem tarde, hum... que maravilha!). O nosso pequeno-almoço é muito reduzido, cada uma tem direito a um pão e a um copo de água. O resto do dia varia muito, conforme as condições climatéricas, a disposição das crianças,... O meu principal objectivo é proporcionar às crianças momentos divertidos, e tentar reduzir o seu sofrimento causado pela perda dos que lhes eram próximos. Tanto posso brincar às "escondidinhas" com elas, como fazer puzzles, contar histórias, ou até ajudar as enfermeiras a tratar aquelas que tenham lesões ou estejam doentes.

Peço desculpa, mas o meu pequeno intervalo está a acabar, e já está a tornar-se difícil continuar a escrever-vos (já tenho o Aadi às minhas cavalitas, o Badu já quer fazer um desenho no meu diário, e a Chiku já quer fazer-me um penteado).












8 de Setembro de 2010

Cheguei ontem a casa. Pensa-se nos compromissos da vida. Que se tem irmãos, avós, amigos, (férias! praia, sol, mar,…),… Desprender-se de tudo isso pode ser muito difícil. Mas enganam-se os que pensam que fui ao Haiti simplesmente ajudar. O que se vive vale muito para nós próprios, para a compreensão da nossa própria vida. Estar no Haiti fez-me ver o que pode ser não ter mais família, não ter mais casa, não ter mais carinho, não ter mais sonhos,… e ainda assim insistir em viver, quere viver, lutar,…

Sem dúvida que estes três meses mudaram a minha pirâmide dos valores. Realmente era verdade o que aprendi em Filosofia, que a pirâmide dos valores não era eterna, podia mudar ao longo do tempo ou conforme as situações. Se antes não dava valor ás “pequenas” coisas da vida, como ter comida para almoçar, poder andar na escola, ter uma cama onde dormir, a todos os confortos que tenho em casa, agora, sem dúvida, passei a dar. A minha atitude perante as coisas mudou. A minha esperança e espírito de sacríficio cresceram significativamente. Até a minha fé aumentou depois destes três meses.

Se iniciei a minha visita ao Haiti para ajudar as pessoas de lá, por achar que devia fazer o sacrífico de renunciar às minhas férias, agora agradeço profundamente a quem me deu esta opurtunidade.