domingo, 31 de janeiro de 2010

Valorar.

A não indiferença perante o mundo implica que a nossa vida não signifique apenas contemplar passivamente, e este é um dos objectivos da Filosofia. Nós, o agente tem função de valorar alguma coisa. Normalmente aplicamos o termo valor a propósito de objectos materiais, mas na perspectiva filosófica, valor tem uma significação diferente, não se refere a coisas materiais, o acto de valorar só se exerce na presença dos objectos, dos actos ou das situações reais.
O sujeito atribui valor ao facto, constituindo-o como objecto de preferência ou rejeição. Todos assumimos uma atitude valorativa em face das coisas o que nos leva a formular juízos de valor, ao fazermos juízos de valor, deixamos transparecer a preferência que temos por umas coisas em relação a outras.
As preferências e os valores variam em função da pessoa, e de acordo com Maslow o que tem valor para cada homem é aquilo que satisfaz as suas necessidades. Com a teoria das necessidades de Maslow, os valores diferem em função do nível da escala hierárquica em que se encontra o individuo, por isso cada pessoa deve formar a sua pirâmide de valores para ter na vida linhas orientadoras.
Os valores de cada pessoa podem variar em função do seu grupo social e da sua cultura e também variar ao longo do tempo. Os valores atríbuidos ao mesmo objecto variam conforme a pessoa pois cada individuo tem diferentes opiniões, a subjectividade dos valores, também há valores que conseguem ultrapassar a subjectividade, são trans-subjectivos, isto é, deveriam ser valores que todos conhecêssemos e respeitássemos, por exemplo a dignidade humana.
Na minha opinião só há valor onde a indiferença desaparece e a parcialidade começa a introduzir-se no real. Dar valor é tomar partido perante a realidade.

Em que consiste valorar?

Na perspectiva filosófica, valorar ultrapassa a interpretação materialista. Valorar é julgar em termos valorativos alguma coisa, o valor que atribuímos a umas coisas em detrimento de outras, é que decide o sentido das nossas escolhas. Assim podemos distinguir os valores positivos dos valores negativos (bipolaridade dos valores). Dar valor a um certo objecto é dizer o que nos transmite. é aplicar-lhe adjectivos que são sentidos por nós ao olharmos para ele, a isso chamamos juízo de valor. Nós temos tendência a a formular juízos de valor constantemente, seja acerca de pessoas, como de objectos, como diz no texto: "É da essência do ser humano conhecer e querer, tanto como valorar (...)" . É a partir desses juízos de valor que se distingue os valores positivos de negativo, ou seja, umas coisas são mais valiosas para nós, e outras menos.
Os bens essências para maior parte das pessoas é bastante valioso, seguindo o filósofo Maslow que na sua pirâmide tinha bens essências como menos valioso mas que achava que o que tem valor para as pessoas é o que satisfaz as suas necessidades. Mas cada pessoa tem a sua perspectiva, por isso é que valorar é subjectivo, cada pessoa tem a sua pirâmide dos valores que vai funcionar como linhas orientadoras de vida, e nessa pirâmide dos valores apresentam-se com valênccias diferentes, por isso é que colocamos numa pirâmide, no antigo Egipto a sociedade estava dividida de acordo com uma pirâmide, o mais importante, o Faraó encontrava-se no topo e o resto era distribuído ao longo da pirâmide conforme o seu grau de importância, na pirâmide dos valores é a mesma coisa, o valor mais importante, o nosso valor primordial, colocamos no topo e vamos construindo até à base, onde se vai encontrar o valor menos valioso. E é aqui que os valores sofrem hierarquia, porque cada pessoa tem personalidade ou identidade própria para o fazer.
Mas o que hoje nós dizemos que é o nosso valor primordial, amanhã pode não ser, pois a nossa vida está em constante mudança, o grupo em que estamos inseridos muda com o meio, o meio muda porque neste mundo não há povos iguais, há semelhantes, mas cada um com a sua cultura.
Posso afirmar que cada pessoa tem liberdade de poder valorar o que quiser, porque a opinião das pessoas ninguém a pode censurar, como no tempo de Salazar.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Estou nesta estrada

Perdido, sem rumo,

Relembrando o meu passado,

Numa pequena coluna de fumo.

Vi várias curvas,

Muita oposição,

Vi tudo o que tinha percorrido

Para chegar a esta localização.

Vi a morte levar amigos,

Vi várias enganadoras paixões,

E reparei que todo esse caminho

Era, essencialmente, feito de ilusões.

Ilusão de imunidade,

Ilusão de pacificidade,

Ilusão de amizade,

Ilusão de liberdade.

Vi, também, que nesse caminho

Predominavam os valores materiais

Não estando à vista nem um bocado

Dos valores essenciais.

Mente cerrada

Cegada pela cultura,

Pelos meios de comunicação social

E também por minha loucura.

Acreditava no que me diziam

Sem nunca me questionar

Era uma máquina disposta a acreditar

Naquilo em que a lógica não desafiar.

Decidi, então, mudar a minha vida,

Clarear a minha mente,

Ter opinião própria

Começar a ser gente.

Ajudar os outros,

Não me centrar tanto em mim

Pedir desculpa a quem fiz sofrer

E procurar redimir-me assim.

Então, o Sol brilhou.

A minha vida encontrou o rumo

Por detrás daquela coluna de fumo

Que o vento apagou.

Rimar não é arte

É uma questão de aplicação

Mas tudo se torna mais fácil

Quando nos sai do coração.

Poesia é sentimento,

Para muitos divertimento,

Para outros o sustento,

Mas, para mim, alento.

É o meu refúgio,

Nas horas de tormento,

Nela descarrego

Todo o meu sentimento.

De tudo me esqueço,

Quando estou a redigir

Do meu espírito desaparece

Tudo o que me está a afligir.

Há apenas um alguém

Que não consigo esquecer

Quando estou a escrever.

Enche-me o pensamento

Dá-me inspiração

Para fazer uma produção.

É mais bela que o amanhecer

Mais bela que o luar,

Ofusca tudo à sua volta

Com a sua beleza invulgar.

Não sabia porque se escondia o Sol,

Um astro tão lindo.

Recentemente descobri

Que se sentia constrangido

Ao ver-te na janela,

O teu cabelo dançando ao vento,

Ele retira-se para, também,

Desfrutar desse momento.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Poemas [tela] da pirâmide dos valores [ideais]



Evolução


Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo


tronco ou ramo na incógnita floresta...


Onda, espumei, quebrando-me na aresta


Do granito, antiquíssimo inimigo...




Rugi, fera talvez, buscando abrigo


Na caverna que ensombra urze e giesta;


O, monstro primitivo, ergui a testa


No limoso paúl, glauco pascigo...



Hoje sou homem, e na sombra enorme


Vejo, a meus pés, a escada multiforme,


Que desce, em espirais, da imensidade...



Interrogo o infinito e às vezes choro...


Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro


E aspiro unicamente à liberdade.




Antero de Quental, in "Sonetos"



Lógica


Um dia, enlouquecida,

A prosa lógica

Quis tornar-se poesia...

Cansou-se de preconceitos e receios,

De explicar acontecimentos e conceitos

E de encontrar defeitos de ortografia

Nos mais ingénuos dias

E na melodia das belas canções de outrora...

Pela imperfeição proibida das horas

Cansou-se de contar o tempo

E de explicar o sentimento...

Agora usa uma métrica lúdica e assimétrica

Em metáforas melódicas e histéricas...

De meras palavras concretas e éticas

Virou imagens aladas e secretas

E voou para longe do papel impresso

Para longe da palidez austera do sucesso

Para alvura do enlace das idéias

Para a avidez insensata do pensamento

Onde na mais ilógica filosofia

Nasce um puro movimento... a alma da poesia.


Samantha Beduschi Santana [adaptado]

domingo, 24 de janeiro de 2010

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doura sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa.
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisaem que está indinstinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa

TENHO TANTO SENTIMENTO

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.


Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.


Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

De: Fernando Pessoa

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Poema

É urgente
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar .
É urgente destruir certas palavras,
ódio , solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas .
É urgente inventar a alegria ,
mutiplicar os beijos , as searas ,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Caí o silêncio nos ombros e a luz
impura , até doer .
É urgente o amor , é urgente
permanecer .
Eugenio de Andrade
Valor primordial : FAMÍLIA