segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Poemas [tela] da pirâmide dos valores [ideais]



Evolução


Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo


tronco ou ramo na incógnita floresta...


Onda, espumei, quebrando-me na aresta


Do granito, antiquíssimo inimigo...




Rugi, fera talvez, buscando abrigo


Na caverna que ensombra urze e giesta;


O, monstro primitivo, ergui a testa


No limoso paúl, glauco pascigo...



Hoje sou homem, e na sombra enorme


Vejo, a meus pés, a escada multiforme,


Que desce, em espirais, da imensidade...



Interrogo o infinito e às vezes choro...


Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro


E aspiro unicamente à liberdade.




Antero de Quental, in "Sonetos"



Lógica


Um dia, enlouquecida,

A prosa lógica

Quis tornar-se poesia...

Cansou-se de preconceitos e receios,

De explicar acontecimentos e conceitos

E de encontrar defeitos de ortografia

Nos mais ingénuos dias

E na melodia das belas canções de outrora...

Pela imperfeição proibida das horas

Cansou-se de contar o tempo

E de explicar o sentimento...

Agora usa uma métrica lúdica e assimétrica

Em metáforas melódicas e histéricas...

De meras palavras concretas e éticas

Virou imagens aladas e secretas

E voou para longe do papel impresso

Para longe da palidez austera do sucesso

Para alvura do enlace das idéias

Para a avidez insensata do pensamento

Onde na mais ilógica filosofia

Nasce um puro movimento... a alma da poesia.


Samantha Beduschi Santana [adaptado]

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