quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Afeganistão. Foi para lá que me dirigi, nas férias de Natal do ano passado. População: 22 789 000 pessoas.

Este era, seguramente um dia completamente normal para as todas as pessoas locais, já que cada um fazia o seu dia-a-dia na rua normalmente. Mas, para mim aquele dia iria ter uma importância acrescida para mim.
Quando cheguei a Cabul, a capital do Afeganistão, ia ser acolhida por um casal afegão, que se ofereceu, para me receber na sua casa. Já tinha ouvido falar da famosa burka, mas nunca tinha visto uma ao vivo e a cores. Quando vejo ambos, reparo então, na mulher, fitando-a atentamente. Estava coberta da cabeça aos pés e a única coisa que conseguia ver era os seus imperturbáveis olhos, quase estáticos, como se eles tivessem perdido a vida naquele preciso momento. A burka é uma espécie de véu que cobre o corpo inteiro das mulheres afegãs e que é obrigatório neste país. Quando saio lentamente do “ táxi”, reparo nas expressões de choque e de surpresa, do meu casal de acolhimento. De repente, eles fitam me dos pés à cabeça como se eu tivesse cometido algo de errado... Apercebo me que sou uma estranha para todos os que estavam perto de mim, pois não me vestia como a maioria das mulheres locais, e ainda para mais era estrangeira.
É então que começo a ouvir gritos por toda a parte e vejo durante uma milésima de um segundo, dois homens armados (polícias), a dirigirem - se na minha direcção.
Apercebi – me então que estava a cometer um grave crime: não tinha a burka vestida e estavam naquele preciso momento, a prender-me. Fui escoltada para um carro de patrulha e onde fui transportada para a esquadra local. Aí foram me lidos alguns dos direitos das mulheres talibãs, alguns dos quais acerca do vestuário a usar tais como:
“É obrigatório o uso de véu completo que as cubra da cabeça aos pés ”
“É proibido qualquer tipo de maquilhagem. Foram cortados os dedos a muitas mulheres por pintarem as unhas “
“ É proibido usar saltos altos que, ao andar, produzem sons perceptíveis pelos homens “
“ É proibido o uso de roupas coloridas ou consideradas sexualmente atractivas. “
“ É proibido o uso de calças compridas, mesmo debaixo do véu.”
“Se as mulheres não usarem as roupas adequadas e mostrarem os calcanhares, podem ser verbal e fisicamente agredidas, nomeadamente chicoteadas.”
Sendo assim, eu estava a infringir algumas regras de vestuário já que estava: de calças e com roupa colorida. Os polícias estavam agora a ler-me a sentença. Esta não deverá ser muito pesada, já que ainda era nessa altura, menor de idade, e assim, cumpriria uma pena mais leve do que o normal. Naquele momento, não estava muito preocupada com o que me ia acontecer já que, tinha desrespeitado numa grande escala, a cultura afegã, e sentia-me muito envergonhada, já que podia ter feito um pouco de pesquisa antes de sair de Portugal, para conhecer um pouco mais acerca desta cultura. No minuto seguinte, ouço um estrondo enorme e estridente atrás de mim. Parecia que todo o edifício tinha desabado, e com ele tinha levado as paredes da sala em que me encontrava. A partir deste momento desmaiei, perdi a consciência.
Não sei quanto tempo tinha passado ou se já tinha passado para outro mundo, senão o real. Acordei com uma estranha sensação que me tinham batido ou que estava demasiada perturbada para conseguir pensar e nem sequer ver. Tento então, clarificar as minhas ideias, para que o meu cérebro funcione novamente, e talvez pensar numa maneira que me tirava deste pesadelo rapidamente. Olho então para trás de mim, e vejo os dois polícias caídos no chão inconscientes, extremamente pálidos e com várias feridas na cara. Comecei a levantar – me mas parecia que não sabia andar e estava-me a tornar num robô. Estava muito nervosa com tudo o que tinha acontecido. Foi então que comecei a chorar e a tremer. Ao fim de algum tempo, consegui finalmente levantar-me no chão, e comecei a dirigir-me para o exterior do que restava da esquadra, ainda em estado de choque. Se eu achei que o sítio onde me encontrava antes estava em más condições, cá fora o cenário era muito pior e catastrófico. A atmosfera estava coberta por uma nuvem de fumo muito espessa, havia vários carros na rua a arder e ainda, imensos feridos. As pessoas gritavam desesperadas “bomb!”, ou seja, tínhamos sido alvos de um atentado à bomba. Lembrei-me que tinha lido algures acerca da guerra que estava a acontecer no Afeganistão, à alguns anos atrás. O país estava em guerra devido ao conflito entre os Sunitas e os Xiítas, que pertencem ao Islamismo. Consegui fugir, e depois, refugie-me numa pequena pensão, longe da grande cidade de Cabul.
Agora estou de volta a Portugal, na minha casa para registar esse longo e inesquecível dia que passei nesse longínquo país. Entretanto, o governo afegão retirou-me a acusação, por ainda ser menor de idade. No fim disto tudo digo apenas que dei muito mais valor à mulher na cultura Ocidental, e ela deve ser tratada de forma igual aos homens. Apercebi me então das diferenças que existem entre o meu país e este que visitei, e fiquei feliz por não existirem essas regras em Portugal. Continuo a seguir com atenção, os casos de mulheres corajosas, que desafiam os seus valores culturais para mostrarem que têm de haver mudanças e lutam pela igualdade de direitos entre os dois sexos, mesmo que para isso sacrifiquem a sua vida, para dar voz a um grupo que se sente discriminado.

Nas duas perspectivas:

HOMEM:
O seu valor primordial seria neste caso, a obediência e a lealdade, já que as mulheres na sociedade afegã, são tidas como inferiores em relação aos homens.

MULHER:
O seu valor primordial seria a liberdade e a igualdade, já que estas são vistas como objectos na sua sociedade.

“ Os Homens representam a virtude e elas tudo quanto é pecado, motivo por que têm que expiar e carregar todos os males do Mundo. Porque eles são a virtude e elas o pecado. “

Elmano Madail

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